sexta-feira, 13 de agosto de 2010

CHÃO, por Gatto Larsen

Chão
Venho observando com muita atenção desde algum tempo atrás os trabalhos dos atuais profissionais da dança contemporânea afro-brasileira a mesma para qual os mais importantes criadores estão reivindicando, justamente, o nome de Dança Negra, uma dança atual, cheia de conexões, viva, deixando portas abertas para a entrada de informações de outras formas de arte e por vezes dialogando sem pudor com outras ciências, mas sempre sem perder de vista o negro e o negro da cultura em toda sua dimensão étnica histórica.
Ao mesmo tempo, por ser uma dança honesta no seu principio, os trabalhos não somente falam das inquietações que os move, mas também, o resultado deixa claras as características que o estado nativo imprime as obras.
Deste modo, uma obra de Rui Moreira, que por opção é residente de Belo Horizonte faz muitos anos, cidade nasceu sua companhia “SeráQue?” e onde nascem suas pesquisas e criações, seus trabalhos são muito mineiros e por isso mesmo muito brasileiros.

O mesmo acontece com a Companhia C criada e dirigida pelo baiano Elísio Pitta ou com a Companhia Rubens Barbot Teatro de Dança que é a cara contemporânea do Rio de Janeiro.
Domingo, dia 25, Robson Duarte surpreendeu ao público com seu trabalho chamado Chão que se inscreve sem cerimônia entre os grandes novos trabalhos da atual Dança Negra e que no seu cerne é um produto gaúcho.
Devagar, ao começo ele vai propondo uma viagem por sensações e desta forma toma a atenção de quem está aberto a essa viagem e faz que o espectador viage junto.
Chão está intimamente ligado ao trabalho de Koffi Kôkô o coreógrafo e bailarino de Benin que por sua vez está ligado ao trabalho do japonês Kazuo Ono.
Robson é o mais importante na cena e faz com que os elementos escolhidos para ocupar a cena desapareçam por vezes e que incomodem de noutros. Tudo aquilo que esses elementos poderiam dizer o diz o corpo , o movimento e a dramaturgia do trabalho de Robson que não é apenas uma máquina de produzir movimentos, pelo contrário, o corpo é utilizado para imprimir sensações que remetem a várias situações da memória corporal de quem assiste que por sua vez traz o discurso da poesis do corpo inteligentemente guiado pelo diretor Jesse Oliveira criando momentos imagéticos de grande valor.
O trabalho de Robson Duarte mostra que a Dança Negra brasileira transita pelos caminhos do estudo e da pesquisa que junto a outros criadores fazem com que a dança contemporânea nacional, tão encerrada na mesmice européia (salvo raras exceções) encontre um salutar e bem-vindo oásis.

Rio de janeiro, 31 de julho de 2010




Gatto Larsen
Diretor
Companhia Rubens Barbot Teatro de Dança